Lacan defendia que
uma verdadeira análise é a análise do inconsciente e não do ego e muito menos
de seus mecanismos de defesa, e repudiava a idéia da contratransferência,
postulando que o único desejo do analista em relação a seu paciente é que este
entre em análise! É por isso que acredito que todo profissional da saúde deve
ter uma relação de neutralidade com seus pacientes, pelo bem dos mesmos em prol
do sucesso do tratamento, nunca se envolvendo emocionalmente. Para isso
deveríamos todos nos comprometer com nosso próprio processo de análise. É
exatamente por isso que não podemos analisar nossos amigos, parentes,
companheiros.. Enfim, e também o motivo pelo qual um médico não pode tratar
também de seus familiares, a regra da ética em relação às armadilhas da contratransferência
e das relações afetuosas valem para todos os profissionais da saúde. Querem saber o quanto isso pode
ser perigoso?!
Vou usar dois casos famosos para exemplificar essa problemática: Michael Jackson e Marilyn Monroe.
Marilyn estava fazendo análise havia dois anos com o psiquiatra e psicanalista Dr. Ralph Greenson. Suas sessões duravam 4 horas e aconteciam de segunda a sexta. Ele pensou que seria uma boa idéia prover para ela uma família adotiva, já que ela tinha uma carência famialiar. Marilyn foi retirada da guarda da mãe após esta ser diagnosticada com esquizofrenia e por isso havia passado por lares adotivos na infância. O problema é que o médico "a adotou"! Será que ela precisava de mais um lar adotivo?! Ela passou a freqüentar a casa dele, se envolvendo pessoalmente com ele e com a família enquanto estava em análise. Marilyn, ao que tudo indica, tinha uma estrutura psicótica, ou borderline, dependendo da escola psicanalítica, a transferência desse tipo de estrutura é que chamamos de erotomaníaca, ou seja, o risco desse envolvimento entre médico e paciente é ainda maior, é devastador para uma feminilidade já devastada pela falta de amor paterno. O setting "vazou" para a convivência. Morte da análise. A paciente pede por mais medicação, e o médico fez sua vontade. Ela os tomava aos montes, pois confiava em seu médico. Resultado: suicídio da paciente, ou overdose acidental, não sabemos. Ela não terminou de fazer seu último filme, que nunca fora lançado. Ela não deixou bilhete de despedida, mas deixou um poema em seu diário de algumas semanas antes: "Após dois anos de análise: Socorro, socorro, eu sinto a vida se aproximando, quando tudo o que eu quero é morrer..."
Vou usar dois casos famosos para exemplificar essa problemática: Michael Jackson e Marilyn Monroe.
Marilyn estava fazendo análise havia dois anos com o psiquiatra e psicanalista Dr. Ralph Greenson. Suas sessões duravam 4 horas e aconteciam de segunda a sexta. Ele pensou que seria uma boa idéia prover para ela uma família adotiva, já que ela tinha uma carência famialiar. Marilyn foi retirada da guarda da mãe após esta ser diagnosticada com esquizofrenia e por isso havia passado por lares adotivos na infância. O problema é que o médico "a adotou"! Será que ela precisava de mais um lar adotivo?! Ela passou a freqüentar a casa dele, se envolvendo pessoalmente com ele e com a família enquanto estava em análise. Marilyn, ao que tudo indica, tinha uma estrutura psicótica, ou borderline, dependendo da escola psicanalítica, a transferência desse tipo de estrutura é que chamamos de erotomaníaca, ou seja, o risco desse envolvimento entre médico e paciente é ainda maior, é devastador para uma feminilidade já devastada pela falta de amor paterno. O setting "vazou" para a convivência. Morte da análise. A paciente pede por mais medicação, e o médico fez sua vontade. Ela os tomava aos montes, pois confiava em seu médico. Resultado: suicídio da paciente, ou overdose acidental, não sabemos. Ela não terminou de fazer seu último filme, que nunca fora lançado. Ela não deixou bilhete de despedida, mas deixou um poema em seu diário de algumas semanas antes: "Após dois anos de análise: Socorro, socorro, eu sinto a vida se aproximando, quando tudo o que eu quero é morrer..."
O
Dr. Ralph Greenson disse em sua defesa: "fui pego nas armadilhas da
contratransferência". Ou seja, foi seduzido pela paciente e se deixou
render pelo desejo de agradá-la ao invés de tratá-la. Ao contrário do médico do
Michael Jackson, ele nunca sequer foi indiciado, julgado, nem muito menos,
apontado na lista de suspeitos. A polícia o interrogou, e após dados
colhidos com ele, mais as fitas de gravação das sessões de análise (gravar
análise é considerado anti-ético) foi concluído que a atriz havia se suicidado.
Após o laudo da necropsia, foi comprovada a overdose de barbitúricos, medicação
prescrita por Dr. Ralph Greenson naquela tarde, ele foi uma das últimas pessoas
a vê-la viva, já que algumas sessões eram feitas em sua própria casa. Isso por
si só já representa a quebra do setting analítico, que precisa ser preservado
na construção de um espaço novo, de confiança entre médico e paciente. O
psicólogo visita um paciente em seu domicilio apenas em situações de home care,
quando este está acamado, ou sem condições de poder se deslocar até o
consultório.
Michael Jackson contratou o Dr. Conrad Murray para companhá-lo durante os ensaios para a tour This Is It e também durante a mesma. Ele foi contratado por ser um cardiologista, para monitorar a saúde de Michael. Ele estaria se desintoxicando de seu vício em analgésicos, diminuindo doses e passando de um medicamento mais forte para uma mais leve (método da redução de danos que se aplica em todo viciado). No entanto, o Dr. Conrad Murray praticamente morava na casa do Michael, convivia com ele e com sua família, tornando-se assim, amigos. Enquanto era para ele ter sido firme nas diretrizes do tratamento, impondo a hierarquia correta do médico sobre o paciente, ele caiu nas armadilhas contratransferenciais e quis fazer as vontades de seu ilustre paciente. Foi seduzido por seu carisma. O que o Michael queria, ele dava. Resultado: morte do paciente. Podemos levantar a hipótese da parceria de sintomas nessa relação, a transferência de Michael também era afetuosa. Michael parecia ter uma estrutura devastada pela falta do amor paterno, uma histeria gravíssima, forçada até os limites da psicose por seu vício em analgésicos, todo os seus sintomas, em hipótese, pareciam emergir da rejeição brutal do seu pai, seu cuidador, posição esta, ocupada por um médico em situações assim na vida adulta. Fica claro que um processo de análise, com um psicanalista competente, teria beneficiado em muito o Rei do Pop. O Dr. Conrad Murray foi acusado de homicídio culposo, condenado e preso por dois anos: "Ele me implorou para tomar a droga porque queria dormir, não queria mais pensar. Ele estava em crise, consumido pelo pânico".
O Dr. Conrad Murray alega que conversa com o espírito de Michael e que ele estava lá no dia do seu julgamento. Minha hipótese diagnóstica deste médico: esquizofrenia! Nesse caso a erotomania veio dele! Como confiar no que um esquizofrênico diz?
Michael nunca estreou a sua tour This Is It, assim como o último filme de Marilyn nunca será visto, nunca iremos ter a honra de assistir o último espetáculo deste grande artista.
As últimas palavras de Michael Jackson foram gravadas naquela noite, ele estava bastante entorpecido:
“As crianças estão deprimidas... o... nos hospitais, sem sala de jogos, sem cinema. Elas estão doentes porque estão deprimidas. Suas mentes a estão deprimindo... Eu quero dar isso a elas, elas são anjos. Deus quer que eu faça isso. E eu vou fazer, Conrad.”
Michael se referia a suas ações filantrópicas em Neverland, quando ele abria os portões de sua casa para as crianças pacientes terminais de câncer. Muitas se curaram mesmo após terem sido desenganadas por seus médicos. Existem vastas pesquisas sobre o câncer ser, em sua maior parte, originário de causas emocionais e agravado pelas mesmas, a lógica da cura do câncer ser pelo amor é algo defendido em muitas pesquisas. (Carla Berti Bonesso, psicóloga clínica de base psicanalítica).
Michael Jackson contratou o Dr. Conrad Murray para companhá-lo durante os ensaios para a tour This Is It e também durante a mesma. Ele foi contratado por ser um cardiologista, para monitorar a saúde de Michael. Ele estaria se desintoxicando de seu vício em analgésicos, diminuindo doses e passando de um medicamento mais forte para uma mais leve (método da redução de danos que se aplica em todo viciado). No entanto, o Dr. Conrad Murray praticamente morava na casa do Michael, convivia com ele e com sua família, tornando-se assim, amigos. Enquanto era para ele ter sido firme nas diretrizes do tratamento, impondo a hierarquia correta do médico sobre o paciente, ele caiu nas armadilhas contratransferenciais e quis fazer as vontades de seu ilustre paciente. Foi seduzido por seu carisma. O que o Michael queria, ele dava. Resultado: morte do paciente. Podemos levantar a hipótese da parceria de sintomas nessa relação, a transferência de Michael também era afetuosa. Michael parecia ter uma estrutura devastada pela falta do amor paterno, uma histeria gravíssima, forçada até os limites da psicose por seu vício em analgésicos, todo os seus sintomas, em hipótese, pareciam emergir da rejeição brutal do seu pai, seu cuidador, posição esta, ocupada por um médico em situações assim na vida adulta. Fica claro que um processo de análise, com um psicanalista competente, teria beneficiado em muito o Rei do Pop. O Dr. Conrad Murray foi acusado de homicídio culposo, condenado e preso por dois anos: "Ele me implorou para tomar a droga porque queria dormir, não queria mais pensar. Ele estava em crise, consumido pelo pânico".
O Dr. Conrad Murray alega que conversa com o espírito de Michael e que ele estava lá no dia do seu julgamento. Minha hipótese diagnóstica deste médico: esquizofrenia! Nesse caso a erotomania veio dele! Como confiar no que um esquizofrênico diz?
Michael nunca estreou a sua tour This Is It, assim como o último filme de Marilyn nunca será visto, nunca iremos ter a honra de assistir o último espetáculo deste grande artista.
As últimas palavras de Michael Jackson foram gravadas naquela noite, ele estava bastante entorpecido:
“As crianças estão deprimidas... o... nos hospitais, sem sala de jogos, sem cinema. Elas estão doentes porque estão deprimidas. Suas mentes a estão deprimindo... Eu quero dar isso a elas, elas são anjos. Deus quer que eu faça isso. E eu vou fazer, Conrad.”
Michael se referia a suas ações filantrópicas em Neverland, quando ele abria os portões de sua casa para as crianças pacientes terminais de câncer. Muitas se curaram mesmo após terem sido desenganadas por seus médicos. Existem vastas pesquisas sobre o câncer ser, em sua maior parte, originário de causas emocionais e agravado pelas mesmas, a lógica da cura do câncer ser pelo amor é algo defendido em muitas pesquisas. (Carla Berti Bonesso, psicóloga clínica de base psicanalítica).
Obs: reduzir a
mente genial de um artista a hipóteses diagnósticas é sempre um equívoco, uma
tentativa racional de compreender a alma sensível, transcendente, capaz de
sublimar pulsões e desejos em obras de arte que duram a eternidade, nos tocando
infinitamente.
Este texto não foi redigido nos rigores
acadêmicos.
Breve dicionário
do texto:
Transferência: Transferências são reedições, reduções das reações e
fantasias que, durante o avanço da análise, costumam despertar-se e tornar-se
conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela
pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências
psíquicas prévias é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo
atual com a pessoa do médico. Algumas são simples reimpressões, reedições
inalteradas. Outras se fazem com mais arte: passam por uma moderação do seu
conteúdo, uma sublimação. São, por tanto, edições revistas, e não mais
reimpressões. (FREUD, 1969. v. 7, p. 109-19)
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
Contratansferência:
Segundo Isolan (2005), a contratransferência inicialmente passou pelas mesmas
vicissitudes da transferência, sendo vista como uma manifestação indesejável no
tratamento. O conceito de contratransferência foi introduzindo por Freud que o
definiu como sendo aquilo que "surge no médico como resultado da
influência que exerce o paciente sobre os seus sentimentos inconscientes".
(FREUD, 1969, p.125-36)
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
Erotomania:
“No que se refere á transferência, repetidamente
discutida, tudo indica que ela existe na psicose. Mas, diferentemente das
neuroses, onde estas desenvolvem uma neurose de transferência, na psicose se
desenvolve uma psicose passional. A este processo denominaremos erotomania de
transferência, sendo a erotomania a modalidade do amor de transferência própria
da psicose.” (BROCA, 1985)
A erotomania também é definida como
a “certeza delirante de que uma pessoa (de modo geral de nível social mais
elevado) está apaixonada pelo sujeito em questão. Caracteriza-se também por uma
desordem mental na qual predominam ideias amorosas e sexuais.” Fonte: Estrutura,
devastação e erotomania: um estudo preliminar1. Jussara Jovita Souza da Rosa (http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_7/Estrutura_devastacao_erotomania.pdf).
Bibliografia consultada:
ANTELO,
Marcela (Org.). Mulheres de Hoje – figuras do feminino no discurso analítico. Petrópolis:
KBR, 2012.
FREUD, S. A
dinâmica da transferência (1912) In: ROBERT, Priscila F. P.
Agressividade e transferência na clínica psicanalítica: de Freud a Winnicott.
Disponível em: <http://www.fundamentalpsychopathology.org/material/congresso2010/mesas_redondas/MR45-Priscila-F-P-Robert.pdf>.
Acesso em 04 de julho de 2011.
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-contratransferencia © Psicologado.com
MAILER, Norman. Marilyn. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1973.
MONROE, Marilyn. Fragmentos. São
Paulo, Tordesilhas, 2011.
SCHNEIDER, Michel. Marilyn
últimas sessões. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
TARABORRELLI, Randy. Michael Jackson: a magia e a loucura.
Rio de Janeiro: Globo Livros, 2005.
ZIMERMAN, David, E. Manual de
Técnica Psicanalítica ,Uma Revisão.Porto Alegre. Artmed, 2008.483p.